Aproximadamente duas mil pessoas foram diagnosticadas com incapacitações provocadas pela hanseníase no Espírito Santo, entre 2010 e 2019. O número corresponde a 27% do total de casos registrados no estado e sinaliza que grande parte dos pacientes ainda chega ao consultório em estados avançados da doença. O alerta faz parte de um levantamento inédito da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), baseado em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.
Ao todo, a entidade identificou a ocorrência de 6.814 casos novos da doença no estado na última década. As incapacidades da hanseníase são geralmente representadas por alguma deformidade física e diminuição ou perda de sensibilidade nos olhos, nas mãos e nos pés.
A Região Sudeste do País figura na quarta posição em número de casos novos detectados ao longo da última década: 15% do total, o equivalente a 47.272 mil casos. Em primeiro lugar aparece o Nordeste, com 43% dos registros, seguido do Centro-Oeste, com 19,5%. Na terceira posição, está a Região Norte (19%). Somente 3,5% dos novos pacientes identificados nos últimos dez anos estão no Sul do Brasil.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO – “São números alarmantes e, apesar disso, a hanseníase ainda é considerada uma doença negligenciada. Trata-se de um contexto contra o qual a SBD e muitos gestores públicos têm trabalhado arduamente ao longo dos anos, a fim de conscientizar a população sobre as manifestações clínicas da doença e assegurar a todos acesso ao diagnóstico e ao tratamento precoce”, ressalta Mauro Henokihara, presidente da SBD.
Segundo ele, a detecção precoce da doença é fundamental para que o paciente evolua sem sequelas e para diminuir a chance de transmissão para outras pessoas, em especial aquelas com quem convive de maneira regular e próxima. “Infelizmente, observamos um aumento na proporção de novos casos que chegam ao médico com o que chamamos de Grau 1 e 2 de incapacidade física, deformidades e incapacidades físicas às vezes irreversíveis”, pontua o dermatologista.
Pelos números apurados pela SBD no Sinan/MS, em 2010 os casos novos diagnosticados no Espírito Santo com algum tipo de deformidade (Grau 2) e com diminuição ou perda da sensibilidade nos olhos, mãos ou pés (Grau 1) representavam 24% do total. Os últimos dados nacionais disponíveis, referentes a 2019, mostram que essa proporção não apresentou avanços, se mantendo em torno da mesma faixa (26%).
Para Sandra Durães, coordenadora do Departamento de Hanseníase da SBD, isso pode estar relacionado a uma série de fatores, como a classe social e a menor frequência com que eles vão a consultas médicas. “A hanseníase tem uma característica interessante: a pessoa precisa estar atenta aos sinais o próprio corpo. Muitas vezes são manchas silenciosas, que não doem e não coçam. E sabemos que, culturalmente, o homem brasileiro tem mais dificuldade de ir ao médico e cuidar da própria saúde”, ressalta.
Os analfabetos e com ensino fundamental incompleto representam 54% das notificações da doença nos últimos dez anos. “A hanseníase está classificada entre as doenças ditas negligenciadas, que atingem populações com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O Brasil, apesar de estar entre as grandes economias mundiais, apresenta grande desigualdade social. Nas periferias de suas metrópoles, existem grandes bolsões de pobreza caracterizados por habitações insalubres e difícil acesso aos serviços de saúde”, lembra Sandra Durães.
A especialista alerta, no entanto, que, por se tratar de doença endêmica, a rigor toda a população está exposta e pessoas de maior poder aquisitivo também podem adoecer.
Fonte: FV