2.798 é o número de reclamações de som alto que o serviço do Disque-Silêncio do município de Vitória recebeu de janeiro e outubro de 2019. Casas de show, carros de som, obras e até mesmo igrejas podem ser julgados fontes de poluição sonora. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), qualquer ruído que ultrapasse a casa dos 55 decibéis já pode ser considerado prejudicial à saúde.
A Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica), afirma que longos períodos diários de exposição a barulhos de alta intensidade podem gerar não apenas danos auditivos, como também prejudicar o bem estar físico e mental. “Estudos mostram que trabalhar em um ambiente com alto índice de conversas paralelas, por exemplo, pode causar fadiga, estresse e afetar sistemas nervoso, cardiovascular e digestivo”, completa.
Segundo a fonoaudióloga especialista em audiologia, Mabel Almeida, os sintomas que vão além da audição são chamados de ‘extra auditivos’. “Em qualquer nível de comunicação é preciso que haja uma qualidade sonora, senão cria uma dificuldade no processo comunicativo, levando assim à fadiga”, explica.
Mabel, que também é professora adjunta do departamento de fonoaudiologia no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFES, cita um exemplo do que comumente ocorre quando se é exposto a muito barulho. “Às vezes você chega em casa e sente aquele barulhinho no ouvido. Aquele zumbido pode causar um estresse emocional muito grande”, complementa a fonoaudióloga.
Bairros barulhentos
Os locais que mais demandam o serviço do Disque Silêncio da capital são Jardim Camburi, Jardim da Penha, Praia do Canto, Centro e Maria Ortiz. E quem sofre com o alto nível de poluição sonora são os moradores.
Uma moradora de 86 anos da Praia do Canto, que não quis ter o nome divulgado, diz que ela e a irmã precisam tolerar o barulho do Triângulo das Bermudas. “É muita festa e muito barulho sem hora para acabar. Em dia de jogo é gritaria. Acho que todos os moradores se incomodam”, afirma a aposentada.
Ela disse que a comunidade já se queixou e não foi tomada nenhuma providência. A Rua da Lama, em Jardim da Penha, também é bastante criticada quanto ao barulho. A lojista Briane Moreira conta que antes de anoitecer as calçadas já são ocupadas. “Temos que falar mais alto aqui na loja, porque a partir das 16h o pessoal já está aqui em frente”, relata.
O morador do bairro, Enildo Rodrigues, nunca ligou para o Disque-Silêncio, mas tem sua maneira de fugir do barulho. “Fecho as janelas, as básculas do banheiro, as portas. Assim o barulho nem chega a incomodar muito”, ressalta o aposentado.
Poluição sonora em números
Na Grande Vitória, o município com maior quantidade de denúncias é Vila Velha. Apenas no primeiro semestre de 2019, o Disque-Silêncio do local recebeu 4.637 ligações, quantia maior que a dos outros municípios em nove meses.
Dentre as tipologias de ruídos que mais incomodam na região, os vindos de residências são os que possuem mais reclamações. A Prefeitura de Vila Velha alerta em nota que o cidadão que se sentir incomodado pelo excesso de barulho, deve ligar para a Ouvidoria Inteligente para fazer a denúncia e aguardar a visita dos Agentes de Fiscalização.
Em Cariacica o número também é alto. São 3.116 ligações de janeiro à setembro deste ano, sendo que a maior quantia foi registrada em agosto, com 507 denúncias, e a menor em fevereiro, com 269. Baile Funk é um dos tipos de reclamações mais recorrentes no local.
O bairro da Serra campeão em chamadas para o Disque-Denúncia é Novo Horizonte e uma das principais denúncias foram relativas a caixa de som em via pública. O município, que possui a menor taxa de reclamações anual, conta com 1.880 ligações nos primeiros nove meses do ano. A Prefeitura da Serra ressalta que antes de multar, os fiscais vão ao local medir o grau do ruído. “O foco do trabalho é o de orientar e advertir, antes de multar”, ressalta em nota
Fonte: EShoje