Muita gente remete aos pais a figura de herói. Aqueles que estão na linha de frente do enfrentamento ao novo coronavírus (Covid-19), além de heróis dos seus filhos, têm a vida de muita gente em suas mãos.
No Espírito Santo mais de 40 mil homens já foram acometidos pela doença. A vida de mais de 1.500 homens, entre eles alguns pais, foram levadas pelo vírus. De frente à essa luta, para evitar que esse número cresça, estão médicos, enfermeiros, técnicos, entre outros profissionais da saúde.
Nesse dia dos pais 2020, são muitos os heróis que deixaram em casa seus filhos para salvar outras vidas. É o caso do enfermeiro Mario Ferreira Filho, 35, que passará o dia dos pais tratando pacientes da Covid-19.
“Já precisei outras vezes trabalhar nesta data, mas nunca durante uma pandemia. Antes, no dia dos pais, a família inteira preparava um jantar após meu expediente onde, juntos, comemorávamos. Porém, dessa vez será diferente”, conta.
São doze horas de trabalho com uma demanda intensa de pacientes. O profissional conta que leva, todos os dias, uma peça de roupas ao trabalho. E lá toma um banho, e coloca os EPI’s de segurança, enquanto seu filho (10) e sua menina (3) o esperam ansiosos.
“O medo é constante, a rotina de trabalho é muito mais difícil. Meus filhos ficam preocupados quando saio, e ansiosos quando chego em casa. Qualquer espirro que dou em casa, meu filho pergunta se não é o vírus”.
A profissão requer um risco que precisa ser tomado, explica o pai. “Vejo muitos jovens sem comorbidade indo para a UTI, tive que entubar colegas e vi uma delas falecer. Isso me marcou bastante”.
Acompanhar de perto cada caso, fez com que Mario dobrasse os cuidados para proteger sua família. ” A rotina de higiene ao sair e voltar pra casa mudou bastante. Tomo dois banhos antes de ver as crianças, um ao sair do trabalho e outro ao chegar em casa”.
Até o momento, todos os cuidados valeram a pena. “Somos só eu, minha esposa e meus filhos em casa. Nenhum familiar pode nos visitar, não recebemos ninguém. E só saio de casa para ir ao trabalho e supermercado”.
Filhos são o ânimo
A realidade de uma pandemia é dura, e para quem está na linha de frente de cara a cara com cada caso a realidade não deixa espaço para deslizes no cuidado com a doença.
Para o cardiologista, Henrique Bonaldi, ser pai faz com que os casos o afetassem ainda mais durante a pandemia. “Todas as vezes que damos a notícia de morte é muito impactante. Porém, um caso tirou meu sono, quando dei a notícia do falecimento de um pai, para seu filho. Após a notícia sua reação foi de culpa por ter passado a doença para o pai. Foi difícil dormir essa noite”, revela.
Como prevenção, o médico chegou a ficar um mês sem chegar perto das filhas no início da pandemia. “Será o primeiro Dia dos Pais que conseguirei passar junto com elas. Cheguei a ficar 30 dias sem nem encostá-las. Dói menos ficar longe, do que o risco de passar a doença”, conta.
Apesar da diminuição de casos, os cuidados continuam. “Após a pandemia eu não abraço mais minhas filhas quando chego em casa, vou direto para o banho e uso máscara dentro de casa. Quando tenho contato direto com um paciente com o vírus, fico uma semana distante delas novamente”.
Para quem está na linha de frente, não restam dúvidas em relação aos cuidados com o vírus. “Chegamos a trabalhar 120 horas por semana no pico da doença. Alguns profissionais não foram trabalhar por medo, mas o que me dá ânimo são minhas filhas”.
Além do trabalho no hospital, o médico usa as redes sociais para dar dicas de prevenção para salvar as pessoas da doença. “Salvo mais vidas pelas redes do que no hospital. A intenção é que elas nem cheguem a contrair a Covid-19”.
“O que me dá mais força na minha vida é saber que minhas filhas precisam de mim, o abraço delas é minha coroa. Me mostra que tudo valeu a pena”, desabafa.
Fonte: ESHoje