Entre a cruz e a espada. É assim que encontram-se as pessoas que precisam de um plano de saúde – sobretudo devido a todos os problemas que envolvem o Sistema Único de Saúde (SUS) – no Espírito Santo. De um lado, os preços relacionados aos planos individuais são impagáveis; de outro, os reajustes relacionados aos planos coletivos são considerados absurdos. Entretanto, cuidar da saúde é prioridade para os capixabas, e eles acabam tendo que escolher a opção “menos pior”.
“Tenho um dos melhores planos, mas neste ano o reajuste do plano coletivo (por adesão) foi mais de 20%. Estou pagando quase R$ 1.400,00 de plano e não estou aguentando. Achei absurdo e até entrei com ação para rever meu caso, pois não uso com tanta frequência e lá em minha casa sou eu, minha esposa e minha filha. Caso não se resolva vou ter que buscar outra alternativa, outra operadora”, reclama o advogado Alexandre Barboza, 34.
A jornalista Ana Carolina Miranda, 41, também era cliente de uma operadora sob o plano coletivo por adesão e, após sair da empresa em que trabalhava, continuou durante um ano na modalidade. Quando o prazo terminou, restou a opção de realizar o plano individual. Entretanto, o preço foi considerado impagável para ela.
“Quando fiquei desempregada, tive a opção de continuar fazendo parte do plano coletivo por um ano. Pagava R$ 420,00 e quando acabou o prazo, só tive a opção de fazer o individual e o preço saltou para quase R$ 700,00. É só pra mim e realizo somente exames periódicos, como ginecologista, cardiologista e endócrino, umas duas vezes ao ano. Esse valor, sem contar os proporcionais de exame. Sem condições para mim”, protestou.
ANS
A Agência Nacional de Saúde (ANS) estipula anualmente o teto de reajuste dos planos individuais/familiares, que no ano de 2019 ficou estabelecido em até 7,35% de aumento nas mensalidades, valor inferior ao do ano passado: 10%. Mesmo assim, este é o 16º ano consecutivo que a Agência reajusta o valor acima da inflação do ano anterior – este ano, praticamente o dobro de 2018, que foi de 3,75%. Desde 2000, o pico aconteceu no ano de 2016, quando o reajuste individual foi de 13,57%.
Já o aumento, muitas vezes absurdo, relacionado aos planos coletivos, sejam eles empresariais ou por adesão, é estabelecido pela própria operadora em negociação com a pessoa jurídica contratante (empresa, sindicato ou associação) e varia. Dados da ANS mostram que em um ano, 49 % dos planos coletivos com mais de 30 beneficiários e 62,5% dos coletivos com menos de 30 beneficiários tiveram reajuste entre 7,93% e 25%. Outros 5,31% do primeiro grupo e 3,96% do segundo grupo tiveram reajuste superior a 25%.
“O reajuste anual dos planos coletivos (empresariais e por adesão) com menos de 30 beneficiários conta com uma regra específica, o pool de risco, na qual as operadoras devem reunir em um grupo único todos os seus contratos coletivos com menos de 30 beneficiários para aplicação do mesmo percentual de reajuste. Essa medida, chamada de Agrupamento de Contratos, tem como objetivo a diluição do risco entre os clientes. Para os planos com 30 beneficiários ou mais, o reajuste anual é estabelecido a partir da relação comercial entre a empresa ou entidade contratante e a operadora, havendo espaço para negociação”, explicou a Agência, por meio de nota.
Planos perdem 230 mil clientes
Em dois anos os planos de saúde perderam 229.340 clientes em todo o Brasil. Atualmente são 46.999.473 no país, uma taxa de cobertura de 24,23%. De todos os clientes, 80,6% têm plano coletivo e 19,1%, individual. Das mais de 28 mil demandas aos planos de saúde registradas no portal da ANS, mais de 41% são reclamações, a maioria relacionadas a contratos e regulamentos, cobertura e mensalidades e reajustes. Mesmo assim, em um ano, a receita das operadoras subiu R$ 4 bilhões.
A Associação Brasileira dos Planos de Saúde (Abramge) informou que o reajuste de 7,35% é inferior à variação dos custos médico-hospitalares, ou inflação médica, que considera o volume de procedimentos cobertos, os preços destes serviços e a incorporação tecnológica. Em 2018, a inflação médica foi de 16,8%. A Abramge informou ainda que em três anos, mais de 50 operadoras faliram.
Administradoras elevam o preço
No Espírito Santo, em dois anos foram acrescentados 27.400 clientes aos planos de saúde. Dos clientes totais, somente 11% têm o plano individual e 88,3% têm planos coletivos. A taxa de cobertura dos planos no Estado é de 31,16%.
Uma fonte médica que não quis se identificar informou que as administradoras de planos de saúde também influem diretamente no aumento de preço dos planos coletivos. Em 2009, elas apareceram no cenário das operadoras, reguladas pela ANS, atuando como prestadoras de serviço intermediando as relações entre os planos e as entidades que contratam o plano.
“Essas administradoras muitas vezes têm o lucro maior do que o do plano e isso deixou o plano mais caro e mais burocrático. Além do dinheiro do plano, tem o dinheiro da administradora que influi nesse aumento com uma boa porcentagem”, revela o médico.
A ANS informou que a contratação do plano de saúde pode ser feita diretamente com a operadora de planos de saúde ou por intermédio de corretores. “No caso dos planos coletivos, a pessoa jurídica contratante (empresas, associações, sindicatos ou entidades de classe) também pode contar com o auxílio de uma administradora de benefícios. Essas informações também estão no portal da ANS na cartilha com orientações para quem pretende contratar um plano”, respondeu a ANS em nota.
Fonte: EShoje